Por Jeise Ekê
Escrevo profundamente triste, mais um se vai, fez de seu corpo o suporte para a criação, foi chamado de todos os adjetivos possíveis para negar a ele o título de artista. Tentaram tirar a consciência, não foi possível, a arte então tirou lhe a vida. Jayme Figura me apareceu pela primeira vez no largo da vitória, depois na barroquinha, em outro dia na porta de seu sarcófago. Falamos sobre o esoesqueleteo, sobre a necessidade de proteção do mundo, a mão forte. -Ogum lhe acompanhe menina. Ele me disse depois de acompanhar de pé minha aparição numa sala. Eu não percebi sua presença, embriagada pelo desejo da presença e da ausência. As pessoas sentadas, ele em pé, julguei ser ele uma escultura imóvel, não era, Jayme anda, andou, foi isso o que mais fez. Andou e provocou os encontros. A arte mata mais um. Morreu de arte, seus rastros, objetos que cunhou exaustivamente em seu sarcófago agora ganham status de obra de arte, quando não se tem mais o artista, é que o mercado torna valioso seus rastros. Encantou-se dirá os mais leves, eu digo que foi como não deveria ter ido. O conforto e benefícios do árduo trabalho devem ser gozados em vida. Que essa realidade se altere. Que os urubus que agora se refestelam sobre o cadáver possam constipar com o néctar que sugam do espólio de mais um artista negro morto de arte.